, mano:
Entendo
o seu ponto de vista. Não posso falar por todos, mas posso falar por
mim. Há um erro de conceito, pelo menos no que me diz respeito: não é ódio, é indignação. E muita indignação.
Só
sofismando muito ou com muita alienação cor-de-rosa não se percebe o
que ocorre no Brasil. Até porque está acontecendo a olhos vistos em boa
parte da América Latina. Quando princípios fundamentais de ética moral
e social são sub-reptícia e intencionalmente deturpados, a reação,
repito, não tem a ver com ódio, mas com indignação.
Grupos
e pessoas com agendas políticas próprias, cooptadas ou compradas usam a
liberdade das instituições para subvertê-las. São como a liana, que
cresce à sombra e proteção de uma árvore até que, por fim, termina por
succocá-la.
O brasileiro é inseguro como consequência de muitos fatores.
É
refém de tudo: de vícios de criação, de privilégios coloniais (de que
todo mundo reclama, mas não perde oportunidade quando se lhe aparece uma
“boquinha”...), de leis intencionalmente dúbias, da demagogia barata,
sempre propondo soluções simplistas e demagógicas, e até do próprio
idioma. Como não ser inseguro nesse ambiente movediço, nebuloso,
incerto, onde nada é permanente e tudo está à venda, inclusive a honra?
A resposta a essa insegurança é tão insegura quanto o ambiente.
Na
ignorância e nos contornos indistintos de instituições, na
insinceridade de políticos e nas mentiras crassas dos grupelhos de
interesses (na quase totalidade, de interesses escusos), o brasileiro é
empurrado para o complexo de inferioridade. É convencido de que é
vítima, um eterno explorado, nada mais que tabula rasa no qual,
aí sim, esses grupelhos traçam suas cartilhas de ódios de todos os
tipos, do racial à xenofobia. É a diferença entre “os nós” e “os eles”
levada ao extremo da intolerância, avalizada pela ignorância
intencionalmente cultivada.
Então,
para cúmulo do cinismo, vem esse papo de que quem é contra o atual
estado de coisas está estimulando ódios, de que é contra porque não
aceita a diminuição das diferenças na distribuição de renda.
Desculpe, mano, isto é completamente falso.
É
como passar uma sentença sem tribunal baseado em sofismas muito bem
engendrados por quem foi treinado exaustivamente para fazer exatamente
isto, onde o que menos importa é a verdade.
Por
isto detesto patrulhas. Principalmente pela proposição descarada de
tentar o que fracassou em toda parte, sem um único exemplo de sucesso.
Repito: é muito descaramento propor como solução dos males do Brasil um
tipo de regime cujo denominador comum é a falha trágica e fragorosa, o
sacrifício de gerações para nada.
Mas
seus propositores não são idiotas. Muito pelo contrário. Se são
inteligentes e sabem disto, das duas uma: ou, arraigados a suas crenças,
ainda acham ser possível fazer dar certo ao sul do Equador, ou têm
outro tipo de interesses, neste caso pessoais e inconfessáveis.
Parece
que atribuir ao ódio a indignação natural contra os desmandos atuais
nada mais é do que outro expediente da retórica desses grupos bem
treinados... e assalariados. Só que eu estou acordado, mano. E
reagirei a todo tipo de patrulha, pode apostar.
Não
falo por ninguém. Falo por mim: não tenho ódio, mas tenho desprezo por
quem tem o descaramento de vender altruísmo para esconder instintos e
interesses muito mais baixos.
Você,
com seu idealismo e experiência de vida, respeito profundamente.
Esclareço-lhe abertamente para que meus pontos de vista não sejam
confundidos. Como seu amigo pessoal, devo isto a você.
Aqui
e ali, minha indignação pode ir além da propriedade ou mesmo da
educação. Mas não confunda, por favor, ódio como indignação. Como
cidadão, como Maçom e como homem, tenho pleno direito a ela. E a
insurgir-me contra os que deturpam as coisas para implantar suas
teorias, não importa como.
Abração,
JG
DDileto Irmão Boareto;
Não
esperava menos de vossa lúcida, arguta e ponderada mente. Parabéns
pelas excelentes considerações e pela coragem de colocar "o dedo na
ferida" de todos nós.
Deixo-lhe a sugestão e proposta de abordarmos a
questão em loja, na forma de uma exposição ao quadro geral da UT, feita
por vós na data que melhor lhe aprouver. Apenas marque a data que
garanto a apresentação.
Vossa presença é extremamente necessária e bem vinda.
TFA
Magalhães.
Em quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014, Boareto Alvaro <
boaretomendes@yahoo.com.br> escreveu:
> Prezados IIr.'.,
>
é triste, mas tenho que admitir ser verdade. Realmente todos nós
acabamos nos envolvendo nessa roda de ódio. Na verdade, nós maçons,
devemos combater cotidianamente esse vício com a reflexão e tentando
incessantemente praticar a tolerância, a solidariedade, respeitar a
liberdade alheia para atingirmos a igualdade como IIr.'. em um mundo
onde a "luz do Templo irradia sobre todo o Universo, pregando o advento
de uma humanidade melhor e mais esclarecida". Este conceito teórico
idealístico pregado adequada e insistentemente pela nossa Ordem é a
proposição real para nos desviarmos dessa "cultura cíclica do ódio".
Todavia, implementá-lo no mundo real realmente é um desafio que,
infelizmente, reconheço não estarmos preparado (e eu em especial assumo
tristemente minha incopetência).
> Qual seria a solução? Boa
pergunta, para a qual cofesso - mais uma vez infelizmente, não ter uma
boa ou adequada resposta. Talvez por isso seja uma boa proposição que
todos nós reflitamos e levemos essas reflexões para nosso Templo (onde a
luz irradia) de forma recorrente e iterativa. Quem sabe essa
insistência (e tem que ser insistentemente - perdôem-me a redundância)
não propricie a formação de uma EGREGORA MAIOR que faça brotar uma
"luz no fundo do nosso POÇO EXISTENCIAL". Como maçons temos que estudar
incessantemente os problemas da humanidade e propor-lhes soluções
pacíficas, logo o ódio não é uma opção!
>
> Assim, entendo
ainda que o estudo individual não nos levará neste momento a lugar
algum, pois como indivíduos estamos circuscritos nesse CICLO ODIOSO e,
dessa forma, nosso intelecto e alma estão turvados pela maldade! Somente
a EGREGORA IRMANADA da Ordem maçônica pode nos iluminar com a sabedoria
do Delta Luminoso.
> Obrigado ao Ir.'. que enviou esta
mensagem. Em meu humilde entendimento ele inseriu uma questão de ordem
que tem um grande potencial de dar partida a uam real revolução de ordem
ideológica.
> Que o GADU nos ilumine e guarde.
> Meu sempre forte TFA,
> Álvaro.
>
>
> Em Quinta-feira, 27 de Fevereiro de 2014 20:20, Fernando Magalhães <
magallegal@ibest.com.br> escreveu:
> Excepcional texto!
> Parabéns e obrigado pelo envio, Irmão André Luiz.
>
Esclarecedor da atual situação que nos envolve e assola, ameaçando o
equilibrio e o bom senso de todos; inclusive daqueles que se consideram
livres e de bons costumes; justos e perfeitos...
> Leitura obrigatória.
> TFA
>
>
> Esta matéria é esclarecedora.
>>
>>
>> A história do ódio no Brasil
>>
>> qui, 27/02/2014 - 09:58
>>
>> Do Gluck Project
>>
> A história do ódio no Brasil
> por Fred Di Giacomo
>
>
“Achamos que somos um bando de gente pacífica cercados por pessoas
violentas”. A frase que bem define o brasileiro e o ódio no qual estamos
imersos é do historiador Leandro Karnal. A ideia de que nós, nossas
famílias ou nossa cidade são um poço de civilidade em meio a um país
bárbaro é comum no Brasil. O “mito do homem cordial”, costumeiramente
mal interpretado, acabou virando o mito do “cidadão de bem amável e
simpático”. Pena que isso seja uma mentira. “O homem cordial não
pressupõe bondade, mas somente o predomínio dos comportamentos de
aparência afetiva”, explica o sociólogo Antônio Cândido. O brasileiro se
obriga a ser simpático com os colegas de trabalho, a receber bem a
visita indesejada e a oferecer o pedaço do chocolate para o estranho no
ônibus. Depois fala mal de todos pelas costas, muito educadamente.
>
Olhemos o dicionário: cordial significa referente ou próprio do
coração. Ou seja, significa ser mais sentimental e menos racional. Mas o
ódio também é um sentimento, assim como o amor. (Aliás os
neurocientistas têm descoberto que ambos sentimentos ativam as mesmas
partes do cérebro.) Nós odiamos e amamos com a mesma facilidade. Dizemos
que “gostaríamos de morar num país civilizado como a Alemanha ou os
Estados Unidos, mas que aqui no Brasil não dá para ser sério.” Queremos
resolver tudo num passe de mágica. Se o político é corrupto devemos
tirar ele do poder à força, mas se vamos para rua e “fazemos balbúrdia”
devemos ser espancados e se somos espancados indevidamente, o policial
deve ser morto e assim seguimos nossa espiral de ódio e de
comportamentos irracionais, pedindo que “cortem a cabeça dele, cortem a
cabeça dele”, como a rainha louca de Alice no País das Maravilhas.
Ninguém para 5 segundos para pensar no que fala ou no que comenta na
internet. Grita-se muito alto e depois volta-se para a sala para comer o
jantar. Pede-se para matar o menor infrator e depois gargalha-se com o
humorístico da televisão. Não gostamos de refletir, não gostamos de
lembrar em quem votamos na última eleição e não gostamos de procurar a
saída que vai demorar mais tempo, mas será mais eficiente. Com escreveu
Sérgio Buarque de Holanda, em “Raízes do Brasil“, o criador do termo
“homem cordial” : “No Brasil, pode dizer-se que só excepcionalmente
tivemos um sistema administrativo e um corpo de funcionários puramente
dedicados a interesses objetivos e fundados nesses interesses. Ao
contrário, é possível acompanhar, ao longo de nossa história, o
predomínio constante das vontades particulares que encontram seu
ambiente próprio em círculos fechados e pouco acessíveis a uma
ordenação impessoal” Ou seja, desde o começo do Brasil todo mundo tem
pensando apenas no próprio umbigo e leva as coisas públicas como coisa
familiar. Somos uma grande família, onde todos se amam.
>> O já
citado Leandro Karnal diz que os livros de história brasileiros nunca
usam o termo guerra civil em suas páginas. Preferimos dizer que guerras
que duraram 10 anos (como a Farroupilha) foram revoltas. Foram
“insurreições”. O termo “guerra civil” nos parece muito “exagerado”,
muito “violento” para um povo tão “pacífico”. A verdade é que nunca
fomos pacíficos. A história do Brasil é marcada sempre por violência,
torturas e conflitos. As decapitações que chocam nos presídios eram moda
há séculos e foram aplicadas em praça pública para servir de exemplo
nos casos de Tiradentes e Zumbi. As cabeças dos bandidos de Lampião
ficaram expostas em museu por anos. Por aqui, achamos que todos os
problemas podem ser resolvidos com uma piada ou com uma pedrada. Se o
papo informal não funciona devemos “matar” o outro. Duvida? Basta
lembrar que por aqui a república foi proclamada por um golpe militar. E
que golpes e revoluções “parecem ser a única solução possível para
consertar esse país”. A força é a única opção para fazer o outro
entender que sua ideia é melhor que a dele? O debate saudável e a
democracia parecem ideias muito novas e frágeis para nosso país.
>>
>>
Em 30 anos, tivemos um crescimento de cerca de 502% na taxa de
homicídios no Brasil. Só em 2012 os homicídios cresceram 8%. A maior
parte dos comentários raivosos que se lê e se ouve prega que para
resolver esse problema devemos empregar mais violência. Se você não
concorda “deve adotar um bandido”. Não existe a possibilidade de ser
contra o bandido e contra a violência ao mesmo tempo. Na minha opinião,
primeiro devemos entender a violência e depois --